Festas Profano-Religiosas

O NATAL
( Recolha efectuada na freguesia de S. Bartolomeu de Messines pela Luísa Conduto, Paula Vasconcelos e Rui Cuiça )

Srª Dª Evangelina Miguel de Sousa, 66 anos, viúva.

“Pelo Natal era costume reunir-se toda a família. Mesmo os irmãos que, entretanto, tinham partido para longe, vinham todos passar juntos a época do Natal.
Era tradição matar o porco nas vésperas, e, assim, no dia de Natal havia sempre carne fresca. Também era tradição guardar um galo para essa altura, mas quando as famílias eram muito numerosas, sim, porque naquele tempo, cada família tinha sete ou oito filhos, o galo era substituído por um perú, porque dava para mais gente.
Reunir toda a família, nessa época, constituía sempre uma grande alegria...
No dia de Natal, ao almoço e ao jantar, comia-se, geralmente, a carne do porco frita, acompanhada com fatias de pão passadas por ovo.
Na véspera do dia de Natal, à ceia, comia-se o galo ou o perú.
A ceia do Natal e as refeições do dia de Natal eram, sempre, acompanhadas com vinho de colheitas próprias, porque, naquele tempo, quase toda a gente fazia o seu vinho para consumo próprio, e, na época de Natal este nunca era dispensado.
No dia de Natal, depois do almoço, costumávamos dar um passeio pela aldeia, visitávamos os amigos, andávamos de uma casa para a outra, e, provávamos o vinho de todos.
Na época do Natal, durante nove noites consecutivas, acendíamos um madeiro, que era chamado o “Madeiro do Natal”, com o qual se fazia um bom fogo na lareira da cozinha, fogo esse que durava as noites inteiras.
Na noite de Natal, todas as pessoas iam à missa do galo. Geralmente, estavam reunidos à volta da lareira até à meia noite, mais ou menos, altura em que se metiam a caminho para a missa.
A gente nova nunca perdia essa missa, porque era a maneira de se encontrar com rapazes e raparigas de outras aldeias. Mas, havia sempre uma pessoa mais velha que os acompanhava, para manter o respeito, e, lembro-me que o meu pai era muitas vezes escolhido para acompanhar-nos.
Antigamente, não era costume armar-se a árvore de Natal, era mais a tradição do madeiro na lareira.
A rapaziada nova organizava, muitas vezes, uns bailaricos em casas particulares, onde os rapazes tocavam bandolim, guitarras e onde, às vezes, até arranjávamos “grafenolas” ( grafonolas ). Durante o bailarico sempre havia uns fritos para irmos comendo...e, que eu me lembre, era mais ou menos isto o que se passava pelo Natal...
O Ano Novo era a altura de se fazer as filhós de massa de pão.
Na véspera, à noite, cantávamos as Janeiras. Formávamos grupos de rapazes e raparigas, mas também havia grupos de pessoas mais velhas e mais necessitadas que, geralmente, aproveitavam para arranjar alguma comida. Toda a gente dava o que podia, mas, quase sempre era milho e pão.
Muitas vezes até conseguiam arranjar milho suficiente para encher uma saca. Então, moíam-no na mó de pedra que tinham em casa e que servia para moer a farinha das papas.
A rapaziada nova, essa gostava mais de petiscar, por isso pediam chouriço ou bocados de toucinho para, no fim, comerem. As cantigas que cantavam eram orientadas de maneira a pedirem o que queriam, e, as raparigas gostavam muito que eles lhes fossem cantar às portas, porque os rapazes tinham sempre os versos destinados a cada uma delas.

“Ai Senhora, venha-nos dar as Janeiras
em louvor de Deus Menino.

Em louvor de Deus Menino
venha-nos dar as Janeiras
porque somos de muito longe
não podemos cá voltar”.

O dia de Ano Novo era dia santo e, portanto, ninguém trabalhava. Todos procuravam passear ou visitar os amigos, e, os mais novos, na tarde do dia de Ano Novo, faziam os seus bailaricos.
Nas vésperas do dia de Reis, à noite, também se saía para cantar. Eram cantigas diferentes das Janeiras, mas a finalidade era a mesma.
Antigamente, ao dia de Reis chamava-se o “o dia dos homens honrados”.
Era costume fazer-se a prova do vinho, ou seja, convidar-se os amigos para provar o vinho e, nesse dia, também porque era dia santo, ninguém trabalhava.
Havia um ditado muito antigo que dizia, mais ou menos, isto: “para haver dinheiro todo o ano numa casa, deve-se guardar romãs, e, comê-las no dia de Reis.