Festas Populares

O ENTRUDO
( Recolha efectuada na freguesia de S. Bartolomeu de Messines pela Luísa Conduto, Paula Vasconcelos e Rui Cuiça )

Sr. Mateus da Silva Sequeira, 87 anos, viúvo.

“O Carnaval era, geralmente, festejado por um grupo de rapazes e raparigas mascarados que cantavam e dançavam, acompanhados por um tocador de “harmónia” ( harmónica/acordeão ).
Outras vezes, esse mesmo grupo montava-se em bestas e percorria todas as casas da vila e das aldeias vizinhas. Batiam às portas e os donos das casas ofereciam um copo ao tocador.”

- Então, naquele tempo não havia bailes?

“Havia, sim senhor. Mas mesmo assim, os grupos que se formavam, dançavam em todas as casas onde entravam, isto, claro, se os donos não se importassem.”

- E não costumavam fazer o enterro do Entrudo?

“Faziam, sim senhor. Era também um grupo de rapazes que enterrava o Entrudo numa cova. Depois deitava-lhe fogo.”


Sr. José dos Santos Cabrita, 42 anos, casado.

-Sr. Cabrita, o senhor ainda se lembra do Carnaval em Messines?

“Bem. O Carnaval, segundo me lembro – pois o tempo passa e a memória já não recorda tudo o que devia – era uma festa alegre, totalmente diferente do Carnaval que hoje se festeja aqui em Messines.
Actualmente, as únicas coisas que se fazem para festejar o carnaval são os bailes e nada mais, por isso até me atrevo a dizer que o carnaval hoje só tem de carnaval o nome, comparado com o de outros tempos.
A juventude, antigamente – penso eu – era mais organizada e tinha mais iniciativas, pois, no nosso tempo, nós é que tínhamos que fazer as máscaras e o vestuário ( as primeiras de papelão, o segundo de lençóis velhos ) enquanto que agora é só ir às lojas e comprar as máscaras e as fantasias. O Carnaval, no nosso tempo, era muito mais divertido, uma vez que éramos nós que fazíamos tudo, o que dava muito mais interesse.
Há anos, aqui em S. Bartolomeu de Messines, ainda se realizaram várias “Batalhas de Flores”, bem organizadas, com alguns carros alegóricos que percorriam algumas das principais ruas de Messines e que terminavam na Rua da Liberdade ( Rua do Cinema ).
No nosso tempo usávamos como instrumentos de carnaval os saquinhos atados com um fio. A farinha e a água eram indispensáveis, nesses dias de festa.
Também era costume enterrar o Entrudo, fazendo um enterro simbólico. Ou seja. Fazíamos um boneco de trapos que ora enterrávamos, ora queimávamos, e, que significava o fim do Carnaval.
Ainda me lembro quando formávamos um grande grupo de rapazes e raparigas, todos “entrouxados” ( mascarados ) percorrendo as ruas da Vila. Íamos de porta em porta, e, por vezes, assustávamos os próprios moradores. Era uma “barrigada” de rir, porque assim vestidos, ninguém nos conhecia. Então, aproveitávamos para fazer “pirraças” ( partidas ) uma vez que “era Carnaval e nada fazia mal”. Não é assim?
Passávamos bons bocados e só é pena que os bons costumes e tradições, como o Carnaval, se venham perdendo com o passar dos tempos e que a rapaziada nova não pegue nestes costumes e lhes dê vida.
No meu tempo, a música que acompanhava estas festas era constituída por um samba ou outro, nada mais do que isso! Aliás, bastava um acordeão e, pronto! Fazíamos uma festa, onde toda a gente se divertia.
Agora já nada disto acontece, porque a juventude só quer é “batuques”. Às vezes, até chegam a beber umas cervejas a mais, ficam mal dispostos e acabam por andar à “porrada” uns com os outros.”