.Usos e Costumes




. Generalidades
( Recolha efectuada na freguesia de Silves pela Carla Machado e pela Carla Sacramento )


Sr. Eduardo Correia, 87 anos.

- Sr. Eduardo, o Senhor era capaz de nos falar da sua vida quando era mais novo?
“…A minha vida quando era mais novo? Ora! Toda ela foi feita a trabalhar. O meu pai ganhava pouco dinheiro, mal dava para alimentar a família. Por isso nunca pude estudar,
porque tinha que ajudar o meu pai a ganhar o pão de cada dia e que tanto custava.
Divertimentos?! Só aos sábados e aos domingos. Ia ao baile que era organizado no campo e onde se agrupavam os rapazes e as raparigas.
Não havia preconceitos nenhuns, porque toda a gente ia ali para se divertir, bailar, cantar e brincar.
Acreditem que tudo aquilo era uma brega, uma paródia…”

Sr. Inácio Casimiro da Silva, 82 anos.

“…No dia em que fiz cinco anos, a minha mãe mandou-nos, a mim e ao meu irmão mais velho, ir ver se alguém andava a roubar figos, porque as meninas não sabem, mas eu, nessa altura, já era um grande guardador de figueiras.
Como a gente não tivesse visto ninguém, voltámos para casa, e, a minha mãe deu-me cinco réis ( que nesse tempo eram de cobre e prata ) para ir à “Vendinha da Pêga” beber um copo de vinho com o meu irmão e celebrar o dia dos meus anos.
A “Vendinha da Pêga” era uma taberna onde, sobretudo, se vendia vinho e tabaco, mas também era o lugar de confraternização dos habitantes da cidade, onde se jogava às cartas e às damas.
Quando a gente chegou à venda “demos de caras” com o nosso pai a jogar às cartas e eu entreguei-lhe os cinco réis. Ele deu-os, logo de seguida, à vizinha Pêga para que ela nos desse, a mim e ao meu irmão, dois copos de vinho.
(- Não havíamos nós de sair bêbados! – comentou, entre duas gargalhadas, o Sr. Inácio.)
Antes de sair, não me esqueci de dizer ao meu pai para ir jantar cedo, conforme o recado que a minha mãe me dera.
Assim se passou o dia dos meus cinco anos, que eu, apesar dos 82 que já tenho, nunca mais esqueço. Lembro-me “como se fosse ontem”.
Durante a minha juventude e enquanto rapazola, costumava ir aos bailes, onde a chula era a dança mais conhecida.
A chula dançava-se deste modo:
“a gente metia a perna no meio das perninhas das raparigas – ( aqui o Sr. Inácio volta a rir, com um ar maroto ) – e andávamos às voltas. Era uma dança muito mexida e a gente divertia-se muito…”