Festas Profano-Religiosas

O CANTAR DE REIS
( Recolha efectuada em Silves, no Sítio dos Canhestros, em conversa havida com o Sr. Joaquim Rosa Mogo, 76 anos, casado, e, com sua filha, Srª Dª Guiomar Mogo do Nascimento, casada )

Sr. Joaquim Rosa Mogo, 76 anos, casado

“Quando os meus filhos eram gaiatos e estavam ainda todos em casa, a Guiomar, o António José, o Aprígio e a Luísa – a Noémia era ainda muito pequenina para estas coisas – costumávamos sempre cantar as Janeiras, nas vésperas do primeiro dia do ano, e, os Reis, nas vésperas do dia dos reis santos – antigamente, ao dia de Reis chamava-se o “dia dos homens honrados” – isto é, na noite de 6 de Janeiro.
Todos os anos, por essas datas, eu, os moços e um vizinho nosso, o José Luís, que tocava muito bem harmónio e nos acompanhava nestes cantos, percorríamos as casas das redondezas, a cantar as Janeiras e os Reis.
Como já sabem como se cantavam as Janeiras, aqui vai o modo como se cantavam os Reis...

“São chegados os três reis
à porta do Oriente
vieram oferecer
cada um o seu presente.

Uns ofereciam ouro
para o menino olhar
outros ofereciam prata
para o Menino brincar.

Menino tão pequenino
com oito dias nascido
veio ao mundo para nos salvar
e foi da Virgem precedido.

Não quis nascer em Belém
nem numa casa de rosas
foi nascer tão pobrezinho
nas palhinhas preciosas.

Onde estava o boi bento
e a mula maliciosa
o boi bento que tapava
com a mão a armadura
e a mula destapava
com a mão a ferradura...”

Parece-me que ainda havia mais alguns versos, mas já lá vai tanto tempo que eu não me lembro de mais. Mas era assim que, no Sítio dos Canhestros, na Barragem,"a gente" cantávamos, todos os anos, os Reis.”